Donald Trump espera lucrar com a desigualdade social do Brasil

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Donald Trump espera lucrar com a desigualdade social do Brasil

Empresário investirá US$ 40 mi em um clube de golfe em SP para os milionários do país

Todd Benson
Em São Paulo

Em um país como o Brasil, onde mais de um terço da população vive com menos de US$ 2 por dia, um playground para os ricos pode parecer algo arriscado. Afinal, somente 20 mil pessoas em uma população de 175 milhões de habitantes jogam golfe - um número muito distante dos mais de 20 milhões de norte-americanos que praticam o esporte.

Mas isso não impede o empresário Donald Trump de investir US$ 40 milhões em um clube de golfe e estação de férias com seu nome nas imediações de São Paulo, a capital financeira da América do Sul. O público-alvo são brasileiros riquíssimos, que costumam gastar e ostentar mais que seus pares do primeiro mundo.

O empreendimento, a ser construído nas montanhas de Itatiba, uma pacata comunidade rural a 90 quilômetros de São Paulo, será a primeira investida empresarial de Trump na América Latina, e incluirá um curso de golfe de 18 buracos, um hotel e um spa de luxo, e, em breve, contará com 500 membros, 350 dos quais donos de terrenos onde construirão suas mansões.

O Brasil é uma terra de contrastes impressionantes. De um lado, há a pobreza lancinante. De outro, porém, há milionários que não hesitam em voar para Nova York ou Paris para fazer compras de fim de semana, muitas vezes seguidos por paparazzi de sua terra. Uma famosa socialite consagrou a sua reputação na alta-sociedade do Rio de Janeiro ao torrar milhares de dólares em uma festa de aniversário - para o seu cachorro.

"A quantidade de dinheiro existente, especialmente na região do entorno de São Paulo, é simplesmente desnorteante", afirma John Casablancas, o magnata da moda que participa do projeto. "É possível ser tão elitista e seletivo a ponto de se focalizar apenas no topo do topo da pirâmide".

Casablancas, que faz parte da diretoria da Trump Realty Brazil e que se auto define como um "consultor genérico de estilo de vida" para o comitê de planejamento do projeto, prevê que a Villa Trump será um tal sucesso que acabará tendo que rejeitar candidatos a sócios.

"Estou totalmente convencido de que o principal desafio será dizer não às 3.000 ou 4.000 pessoas que têm dinheiro suficiente para comprar um título, mas cuja presença não faria do clube o local especial que deve ser", explica Casablancas.

Os 150 membros fundadores, que serão selecionados por Bellino e pelo resto da diretoria da sua empresa imobiliária, a Trump Realty Brazil, contarão com um chalé particular, totalmente mobiliado, durante o curso. A taxa inicial para os membros deve superar a do Trump International Golf Club, em West Palm Beach, Flórida, ficando entre US$ 350 mil e US$ 500 mil anuais.

As obras de construção devem começar dentro de três meses, tão logo o governo conceda as licenças ambientais necessárias. Se tudo sair como o planejado, os diretores do projeto esperam que a Villa Trump seja inaugurada na segunda metade de 2006.

Enquanto isso, o empresário Ricardo R. Bellino, idealizador do projeto, mesmo sem saber jogar golfe, está fazendo tudo ao seu alcance para promover o nome Trump no Brasil. O seu grupo recentemente comprou os direitos sobre o campeonato de golfe profissional Brazilian Open pelos próximos 30 anos, batizando-o de Trump Open.

Poderia ser uma cena saída diretamente de "The Apprentice", reality show de enorme sucesso nos EUA, no qual o empresário Donald Trump organiza uma gincana cujo vencedor ganha um bem pago emprego em uma de suas empresas. Bellino, que ficou famoso como gerente no setor de moda, se dirigiu ao escritório de Donald Trump, em Manhattan, e foi recebido com as seguintes palavras: "olha, você tem três minutos para me vender a sua idéia".

No final, Bellino conseguiu 30 minutos para apresentar seu plano. "Creio que o meu estilo, que é um pouco ousado e irreverente, me ajudou a convencê-lo", conta Bellino, de 38 anos, referindo-se ao encontro com Trump em janeiro de 2003, que selou a parceria entre os dois. "Nós chegamos realmente a um acordo preciso, o que nos permitiu dar início rapidamente aos negócios".

Trump, que nunca foi de se intimidar ante uma potencial oportunidade de negócios, comprou a idéia na hora. O projeto, denominado Villa Trump, será financiado separadamente pelos Hotéis Trump e pelos cassinos do bilionário, que estão enfrentando dificuldades financeiras.

A maior parte do financiamento virá de duas das famílias mais ricas do Brasil - os Meyerfreund, que fizeram fortuna com uma fábrica de chocolates, e os Depieri, fundadores dos Laboratórios Ache, uma gigante brasileira do setor farmacêutico.

Trump não é o único grande nome que Bellino conseguiu trazer para o projeto. Ele convenceu também o famoso golfista Jack Nicklaus a projetar o curso, cuja implementação deverá custar US$ 10 milhões, incluindo uma taxa de US$ 2 milhões cobrada por Nicklaus.

E, a pedido de Trump, entre os membros honorários célebres estarão nomes como o do ex-presidente Bill Clinton e o de astros de Hollywood como Michael Douglas, John Travolta e Jack Nicholson.

"É um projeto suficientemente grandioso, e a forma como está sendo construído certamente está à altura do nome Trump", diz George Ross, vice-presidente executivo da Trump Organization, em Nova York. "Não estamos interessados em algo medíocre. Queremos o melhor, e é isso que o projeto será".

Atualmente, Bellino está cultivando a idéia de trazer o "The Apprentice" para a América do Sul, primeiro para demonstrar a versão original e, posteriormente, para criar uma série local com candidatos brasileiros.

"Já estamos mantendo conversações com os produtores para trazermos o show para o Brasil", disse ele. "Mas temos também outros planos. É óbvio que seria bom se contássemos com o nosso próprio arranha-céus na Avenida Paulista - uma Trump Tower naquela que é a Quinta Avenida brasileira".

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