Plano vence inflação, mas não a desigualdade

Nova moeda trouxe estabilidade, porém ganhos sociais se dissiparam com os juros elevados e o baixo crescimento

Folha de São Paulo
Dez anos após o lançamento do real, no dia 1º de julho de 1994, a atual moeda brasileira pôs fim a uma das mais resistentes e duradouras inflações da histórica econômica mundial. Lançada ante o ceticismo da comunidade internacional e o descrédito dos brasileiros, a moeda conseguiu implodir o sistema de correção monetária enraizado na população e em todos os setores da economia. Entre 1994 e 2004, a inflação medida em São Paulo atingiu 143%. Na década anterior ao real, ficou em 200.160.601.286,84%.
Esse avanço influenciou o comportamento dos 68,2 milhões de brasileiros que nasceram depois ou tinham até dez anos quando a moeda começou a circular. Exemplo dessa "geração desindexada", Julia Cardoso Zylbersztajn, 15, neta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, diz nem se lembrar do nome da moeda anterior -o cruzeiro real.
Apesar desse avanço, grande parte dos benefícios iniciais para os assalariados e para os mais pobres se dissipou no tempo -a desigualdade voltou a subir, a renda dos trabalhadores caiu e o desemprego atingiu níveis recordes.
Embora tenha estabilizado a economia, o Plano Real -associado ao processo de privatização e aos juros altos que sustentaram o valor da moeda- deixou um legado amargo para os cofres públicos e para o mercado de trabalho. Em dez anos, a dívida pública saltou de 30% para 56,8% do PIB. Entre 1995 e 2002, cerca de 2,6 milhões de vagas foram fechadas.
Esse estoque de pessoas sem trabalho é hoje o principal entrave para a queda dos índices de desemprego no país. Para absorvê-lo, os economistas mais otimistas prevêem que serão necessários seis anos e meio de crescimento do PIB a uma taxa média de 3,5%.
Mas o modelo de estabilidade implementado pelo Real foi nefasto para o crescimento. O Brasil deve encerrar 2004 com um histórico de dez anos seguidos de expansão anual abaixo da média dos outros emergentes.

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