Índice de exclusão social "rebaixa" país
Folha de Sao Paulo 17/06/2004
Desde que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) foi lançado pela ONU, em 1990, o Brasil nunca se orgulhou de sua posição ruim no ranking dos 175 países pesquisados. Mas um novo índice sobre exclusão social divulgado ontem joga o país ainda mais para trás no cenário mundial: da 65ª posição, o Brasil despenca para a 109ª colocação.
Esse número faz parte do quarto volume do "Atlas da Exclusão Social", estudo liderado pelo economista da Unicamp Marcio Pochmann, secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo. Baseado em dados coletados pela ONU, eles criaram o Índice de Exclusão Social (IES) e, a partir daí, calcularam um novo ranking.
Pela nova metodologia, o Brasil foi um dos países que mais caíram. Apesar de continuar numa posição intermediária, saiu do bloco do terço mais bem colocado para o do terço pior.
O tombo brasileiro foi acompanhado por diversos outros países latino-americanos: a Argentina passou do 34º para o 57º lugar; o México, do 55º para o 82º. Cuba é o país mais bem colocado: 45º.
Segundo Pochmann, o IES é mais abrangente do que o IDH porque inclui índices parciais do que ele chama de "nova exclusão": desemprego, homicídios e desigualdade social, entre outros. "Estamos num mundo cada vez mais desigual, violento e com um problema seriíssimo de desemprego", disse, em entrevista.
Pochmann afirma que o IDH lida apenas com o que chama de "a velha exclusão" por levar em conta somente três variáveis: escolaridade, expectativa de vida e renda.
"Esses índices melhoram quase por endogamia. Em geral, os governos investem em escolas, água, infra-estrutura, e os países apresentam crescimento econômico", diz Pochmann.
Como exemplo, Pochmann cita o próprio Brasil: "O país teve um crescimento econômico pífio, mas o seu IDH avança".
Os pesquisadores entregaram uma cópia do estudo a Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), que realiza sua 11ª reunião em São Paulo.
Por outro lado, países dos lestes asiático e europeu subiram algumas posições. A China, por exemplo, subiria da 104ª posição para a 89ª e passaria à frente do Brasil.
Para o economista Alexandre Barbosa, os países do leste asiático melhoraram por terem apresentado uma "globalização ativa".
Já o Leste Europeu teve bom desempenho em desigualdade social e alfabetização.
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