Conheça a Zilda Arns a mãe dos pobres do Brasil
Deu no El Pais.....
Médica faz campanha pela nutrição acentuando valor da cidadania
Especialista em pediatria, com 70 anos, Zilda Arns ficou viúva com seis filhos aos 43 anos. Fundadora e responsável pela instituição Pastoral da Criança, uma das organizações mais importantes do mundo no campo da saúde, nutrição e alfabetização, nas regiões de maior miséria, sua liderança lhe valeu seis prêmios internacionais, entre eles o prêmio Heroína da Saúde Pública das Américas (Opas) e 59 nacionais.
Sua organização conta com um exército de 241 mil voluntários, distribuídos em 36.258 comunidades em 3.757 municípios do Brasil e com 7 mil equipes de coordenadores.
Quando começou seu projeto havia municípios nos quais o índice de mortalidade infantil era de 129 por mil. Hoje no Brasil a média é de 29 por mil, embora nas comunidades da Pastoral da Criança tenha baixado para 15 por mil.
Não é uma atriz de telenovela nem uma apresentadora de televisão, nem uma cantora famosa, mas Zilda Arns é hoje a mulher mais conhecida e sem dúvida a mais amada do Brasil.
Ela nasceu em 25 de agosto de 1934 na pequena cidade de Forquilhinha, no Estado de Santa Catarina, de família "nem pobre nem rica", como ela mesma diz. Embora sob a tutela da Conferência dos Bispos do Brasil, a instituição é ecumênica e dirigida por laicos.
Irmã do mítico cardeal Paulo Evaristo Arns, que foi uma figura eminente do Concílio Vaticano 2º e precursor da teologia da libertação no Brasil, Zilda foi proposta pelo governo para o Prêmio Nobel da Paz nos três últimos anos.
Mãe de seis filhos, dos quais o primeiro morreu de parto prematuro, e outra, Sylvia, perdeu a vida aos 30 anos em 2003 em um acidente de carro, a doutora Zilda, como é chamada pela gente pobre, com respeito, é de família alemã emigrada para o Brasil e foi a penúltima de 13 filhos, criados em um ambiente livre, embora religioso.
Aos 43, Zilda ficou viúva de Aloysio Bruno Neumann, que morreu aos 46, afogado no mar ao tentar salvar uma jovem que haviam adotado. O mais velho de seus cinco filhos tinha 12 anos quando seu marido morreu.
A partir de então, Zilda dedicou todas as suas energias a levar adiante seus pequenos com a ajuda de seus irmãos, assim como a se aperfeiçoar em sua carreira, fazendo mais de oito cursos de especialização, e a dar vida ao que seria o grande projeto de seu futuro, a Pastoral da Criança, cuja obra lhe valeu vários prêmios.
O reconhecimento não tira sua simplicidade nem seu sorriso. "Meu maior prêmio", diz ela, "é que aonde eu vou, até na favela mais violenta e pobre, as crianças se atiram ao meu colo beijando-me". E acrescenta: "Sinto-me, sem dúvida, a mulher mais amada pelos pobres deste país".
Mobilização
A idéia de criar no Brasil um grande movimento ecumênico e apolítico para diminuir a mortalidade infantil entre os mais pobres, cuja bandeira Zilda empunharia, nasceu em um encontro da ONU para a paz mundial em 1982.
A Unicef convenceu o então progressista cardeal Paulo Evaristo Arns de que a Igreja poderia salvar milhares de vidas se ensinasse as mães a usar o soro oral. Nesse momento o cardeal pensou em sua irmã Zilda, uma das médicas mais preparadas em pediatria do país e com uma profunda vocação para ajudar os pobres.
Zilda pediu uma noite para pensar. Começou a recrutar voluntários. "Vocês dêem de comer; vacinem as crianças; ensinem as mães a usar o soro; ensinem-nas a ler, não esperem que o governo o faça", dizia-lhes. E foi recrutando um a um.
Atualmente, conta com milhares de voluntários. O financiamento da instituição cabe em 60% ao Ministério da Saúde, e o resto é suprido pela ONG Criança Esperança, da Unesco e do Grupo Globo.
Seu lema foi claro desde o início: "É preciso ajudar as pessoas a ter dignidade". Daí que seu empenho começa com as jovens grávidas (hoje assiste 83 mil) para lhes ensinar as coisas mais elementares sobre nutrição.
Sua preocupação é que as mães amamentem seus filhos. Lembra com humor que ela "mamou até os 3 anos" e que seu pai dizia: "Já chega de continuar tão grande e grudada aos peitos de sua mãe".
Hoje são 1,8 milhão de crianças ajudadas por Zilda e suas equipes. Mas sua preocupação é que essa ação não se transforme em "assistência social", já que, ela afirma, "os pobres sempre nos dizem que, mais que esmola, querem trabalho e estudo". Os pobres lhes lembram às vezes que "também se dá de comer a um animal".
Seu trabalho encontrou resistências, primeiro por parte da Igreja e depois do governo Lula. A Igreja mais conservadora lhe dizia: "Fazer crescer o leite nos peitos das mulheres pobres é obra do governo, e não da Igreja".
Ela chegou a ser insultada por católicos conservadores. Zilda escutava e se calava. "Meu pai havia me ensinado que a melhor resposta às críticas é o silêncio", diz.
Quando Lula chegou ao poder e lançou seu programa Fome Zero, Zilda Arns pensou que o primeiro governo de esquerda queria começar do zero, como se nada tivesse sido feito até então.
E quando o programa governamental não acabava de deslanchar, Zilda lhes disse que com tanta burocracia e pensando só em dar comida não se resolveria o problema dos pobres.
"Já fez as pazes com Lula?" Rindo, Zilda responde: "Sim, Lula me escutou. Me escreveu uma carta de próprio punho convidando-me a fazer parte do projeto". Zilda aceitou e agora luta de dentro para convencê-los de que os pobres "têm fome de pão, mas também de cidadania", e que para isso precisam de trabalho, infra-estrutura e saber salvar seus filhos recém-nascidos.
Zilda continua viajando pelo país, e em seu livro "Depoimentos Brasileiros" conta várias anedotas. Certa vez chegou a um lugar onde haviam reunido as mães jovens a quem devia dar uma aula teórica sobre nutrição.
Depois observou, vendo as idas e vindas ao banheiro, que muitas delas estavam com diarréia. "Levantem a mão as que têm diarréia", disse-lhes. "Agora as que têm muita diarréia." Eram quase todas. "Esqueci a conferência e comecei a dar soro a todas elas", conta.
Médica faz campanha pela nutrição acentuando valor da cidadania
Especialista em pediatria, com 70 anos, Zilda Arns ficou viúva com seis filhos aos 43 anos. Fundadora e responsável pela instituição Pastoral da Criança, uma das organizações mais importantes do mundo no campo da saúde, nutrição e alfabetização, nas regiões de maior miséria, sua liderança lhe valeu seis prêmios internacionais, entre eles o prêmio Heroína da Saúde Pública das Américas (Opas) e 59 nacionais.
Sua organização conta com um exército de 241 mil voluntários, distribuídos em 36.258 comunidades em 3.757 municípios do Brasil e com 7 mil equipes de coordenadores.
Quando começou seu projeto havia municípios nos quais o índice de mortalidade infantil era de 129 por mil. Hoje no Brasil a média é de 29 por mil, embora nas comunidades da Pastoral da Criança tenha baixado para 15 por mil.
Não é uma atriz de telenovela nem uma apresentadora de televisão, nem uma cantora famosa, mas Zilda Arns é hoje a mulher mais conhecida e sem dúvida a mais amada do Brasil.
Ela nasceu em 25 de agosto de 1934 na pequena cidade de Forquilhinha, no Estado de Santa Catarina, de família "nem pobre nem rica", como ela mesma diz. Embora sob a tutela da Conferência dos Bispos do Brasil, a instituição é ecumênica e dirigida por laicos.
Irmã do mítico cardeal Paulo Evaristo Arns, que foi uma figura eminente do Concílio Vaticano 2º e precursor da teologia da libertação no Brasil, Zilda foi proposta pelo governo para o Prêmio Nobel da Paz nos três últimos anos.
Mãe de seis filhos, dos quais o primeiro morreu de parto prematuro, e outra, Sylvia, perdeu a vida aos 30 anos em 2003 em um acidente de carro, a doutora Zilda, como é chamada pela gente pobre, com respeito, é de família alemã emigrada para o Brasil e foi a penúltima de 13 filhos, criados em um ambiente livre, embora religioso.
Aos 43, Zilda ficou viúva de Aloysio Bruno Neumann, que morreu aos 46, afogado no mar ao tentar salvar uma jovem que haviam adotado. O mais velho de seus cinco filhos tinha 12 anos quando seu marido morreu.
A partir de então, Zilda dedicou todas as suas energias a levar adiante seus pequenos com a ajuda de seus irmãos, assim como a se aperfeiçoar em sua carreira, fazendo mais de oito cursos de especialização, e a dar vida ao que seria o grande projeto de seu futuro, a Pastoral da Criança, cuja obra lhe valeu vários prêmios.
O reconhecimento não tira sua simplicidade nem seu sorriso. "Meu maior prêmio", diz ela, "é que aonde eu vou, até na favela mais violenta e pobre, as crianças se atiram ao meu colo beijando-me". E acrescenta: "Sinto-me, sem dúvida, a mulher mais amada pelos pobres deste país".
Mobilização
A idéia de criar no Brasil um grande movimento ecumênico e apolítico para diminuir a mortalidade infantil entre os mais pobres, cuja bandeira Zilda empunharia, nasceu em um encontro da ONU para a paz mundial em 1982.
A Unicef convenceu o então progressista cardeal Paulo Evaristo Arns de que a Igreja poderia salvar milhares de vidas se ensinasse as mães a usar o soro oral. Nesse momento o cardeal pensou em sua irmã Zilda, uma das médicas mais preparadas em pediatria do país e com uma profunda vocação para ajudar os pobres.
Zilda pediu uma noite para pensar. Começou a recrutar voluntários. "Vocês dêem de comer; vacinem as crianças; ensinem as mães a usar o soro; ensinem-nas a ler, não esperem que o governo o faça", dizia-lhes. E foi recrutando um a um.
Atualmente, conta com milhares de voluntários. O financiamento da instituição cabe em 60% ao Ministério da Saúde, e o resto é suprido pela ONG Criança Esperança, da Unesco e do Grupo Globo.
Seu lema foi claro desde o início: "É preciso ajudar as pessoas a ter dignidade". Daí que seu empenho começa com as jovens grávidas (hoje assiste 83 mil) para lhes ensinar as coisas mais elementares sobre nutrição.
Sua preocupação é que as mães amamentem seus filhos. Lembra com humor que ela "mamou até os 3 anos" e que seu pai dizia: "Já chega de continuar tão grande e grudada aos peitos de sua mãe".
Hoje são 1,8 milhão de crianças ajudadas por Zilda e suas equipes. Mas sua preocupação é que essa ação não se transforme em "assistência social", já que, ela afirma, "os pobres sempre nos dizem que, mais que esmola, querem trabalho e estudo". Os pobres lhes lembram às vezes que "também se dá de comer a um animal".
Seu trabalho encontrou resistências, primeiro por parte da Igreja e depois do governo Lula. A Igreja mais conservadora lhe dizia: "Fazer crescer o leite nos peitos das mulheres pobres é obra do governo, e não da Igreja".
Ela chegou a ser insultada por católicos conservadores. Zilda escutava e se calava. "Meu pai havia me ensinado que a melhor resposta às críticas é o silêncio", diz.
Quando Lula chegou ao poder e lançou seu programa Fome Zero, Zilda Arns pensou que o primeiro governo de esquerda queria começar do zero, como se nada tivesse sido feito até então.
E quando o programa governamental não acabava de deslanchar, Zilda lhes disse que com tanta burocracia e pensando só em dar comida não se resolveria o problema dos pobres.
"Já fez as pazes com Lula?" Rindo, Zilda responde: "Sim, Lula me escutou. Me escreveu uma carta de próprio punho convidando-me a fazer parte do projeto". Zilda aceitou e agora luta de dentro para convencê-los de que os pobres "têm fome de pão, mas também de cidadania", e que para isso precisam de trabalho, infra-estrutura e saber salvar seus filhos recém-nascidos.
Zilda continua viajando pelo país, e em seu livro "Depoimentos Brasileiros" conta várias anedotas. Certa vez chegou a um lugar onde haviam reunido as mães jovens a quem devia dar uma aula teórica sobre nutrição.
Depois observou, vendo as idas e vindas ao banheiro, que muitas delas estavam com diarréia. "Levantem a mão as que têm diarréia", disse-lhes. "Agora as que têm muita diarréia." Eram quase todas. "Esqueci a conferência e comecei a dar soro a todas elas", conta.
Comentários
Parabéns!
Celina
Excelente postagem!
Abração!
ps. A postagem foi reblogada no Terra Brasilis, com os devidos créditos.