Cresce repercussão política da morte de sem-teto

Amigos,
As mortes dos moradores de rua em Sao Paulo são um retrato cruel da injustiça social. Mostra até que ponto vai o ódio, a raiva dos que se sentem ameaçados, ironicamente, pelos que nada tem.
O crescimento da riqueza e da concentração de renda de poucos tem como consequência do lado oposto o aumento da miséria. A sociedade Brasileira está rompendo mais uma etapa para baixo na sua degradação social.


Mais rica e excludente cidade do Brasil mata moradores de ruaEl Pais
Juan Arias
No Rio de Janeiro

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, do Partido dos Trabalhadores, decretou nesta segunda-feira (23/08) três dias de luto na cidade por causa da matança de mendigos que, desde a última quinta-feira, vem ocorrendo no centro da cidade, com um balanço de seis mortos e nove feridos graves.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, enviou para representá-lo na manifestação popular de protesto que ocorreu neste domingo, diante da catedral da Sé, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que afirmou: "O caso choca e indigna todo o país e deve ser punido com a mão dura do Estado".

Segundo a polícia e os médicos que realizaram as necrópsia dos seis moradores de rua assassinados e de outros nove feridos gravemente, os criminosos atuaram da mesma forma, quer dizer, com golpes na cabeça e no rosto, provavelmente servindo-se de uma pá.

O governo federal ofereceu ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a ajuda da Polícia Federal para descobrir os culpados, por enquanto desconhecidos. As hipóteses levantadas pela polícia, depois de ter descartado que se tratasse de um acerto de contas entre as vítimas, são duas: ou um bando de "skinheads" [grupos de extermínio racistas] ou criminosos pagos por alguns moradores do centro da cidade, sobretudo comerciantes, que sempre viram com maus olhos os moradores de rua nas proximidades. Ou poderia se tratar de uma combinação das duas hipóteses: os skinheads atiçados pelos comerciantes.

A regiaõ metropolitana de São Paulo, com quase 18 milhões de habitantes, 2 milhões dos quais vivendo em favelas miseráveis, com 30% do PIB nacional, capital econômica e financeira do país e uma espécie de Nova York para a arte e a moda, é uma mistura de paradoxos.

É sem dúvida a cidade mais laboriosa do país, famosa por sua seriedade e ao mesmo tempo uma cidade que exibe sua riqueza como poucas.

Há algumas semanas um empresário, para comemorar seu aniversário, convidou para sua fazenda de milhares de hectares próxima à cidade 8.500 pessoas, das quais 300 anunciaram que iriam em seus aviões particulares; por isso ele precisou construir às pressas um aeroporto e pediu à aviação civil dez controladores de vôo para organizar o céu.

E há ricos que levam sua roupa para lavar em Londres, para depois poder exibir a exótica etiqueta da lavanderia britânica, e restaurantes cuja clientela exclusiva chega de helicóptero ou usa nos pratos dos jantares com seus amigos pó de ouro em vez de queijo parmesão.

Os políticos municipais estão em campanha eleitoral em São Paulo, e cada um acusa o outro pela matança de. A prefeita Marta afirma que, em sua gestão, a cidade dobrou o número de lugares em albergues para mendigos, passando de 3.200 para 7.500, e afirma que muitos deles se negam a ser recolhidos porque, nesses albergues, não podem beber nem consumir drogas. Marta afirma que São Paulo conta com a maior rede de proteção aos moradores de rua de todo o país.

O cardeal-arcebispo de São Paulo, Cláudio Hummes, um dos mais fortes candidatos a sucessor do papa João Paulo 2, denunciou porém a "falta de vontade política" para resolver o problema dos milhares de moradores de rua que vivem na cidade, muitos deles por falta de trabalho.

As críticas do cardeal Hummes foram aplaudidas por várias instituições sociais. O advogado Arielde Castro Alves, do Movimento Nacional de Direitos Humanos, afirmou que se o grupo de extermínio, seja qual for, continuou atuando depois das primeiras mortes, é porque "goza da certeza da impunidade".

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