Economia pode sofrer colapso, diz professor

O canadense Michel Chossudovsky tem se afirmado, nos últimos anos, como um dos economistas mais prolíficos e contundentes nas críticas ao sistema financeiro internacional. Seu livro "Globalização da Pobreza: Impactos das Reformas do FMI e do Banco Mundial", publicado em 1999 no Brasil, previu o colapso econômico argentino. No Rio para participar do seminário "Dilemas da Humanidade", organizado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o professor da Universidade de Ottawa e ex-consultor do Pnud (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas) disse à Folha que o mesmo colapso ocorrerá no Brasil se a política monetária não for mudada logo. Suas críticas se voltaram principalmente contra a presença de Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston, no Banco Central. Chossudovsky chega a dizer que Meirelles poderia passar "inside information" (informações privilegiadas) para bancos americanos. A Folha entrou em contato com a assessoria do BC, mas, até a noite de sexta-feira não obteve resposta de Meirelles.

 Folha - No livro "Globalização da Pobreza", de 99, o sr. analisa o "desastre econômico do Brasil". A situação mudou no governo Luiz Inácio Lula da Silva?

Michel Chossudovsky - Este governo está seguindo exatamente a linha de Fernando Henrique Cardoso, mas com uma política monetária muito mais destrutiva e que tem um vínculo estreito com Wall Street. É certo que o governo de Cardoso teve um presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que era empregado do [megainvestidor] George Soros [...] Agora, temos como presidente o primeiro banco do mundo, o Bank of America. E Henrique Meirelles não era um empregado, mas o presidente do BankBoston, que depois se fundiu com o Boston Fleet e o Bank of America. Um dos principais bancos dos EUA tem, como se diz em inglês, "inside information" (informações privilegiadas). Tem um representante dentro do Banco Central do Brasil com a possibilidade de manipulação. Ou seja, há um governo de esquerda, que pretende ter um mandato do povo, e o presidente de República nomeou uma equipe que tem vínculos com os banqueiros e os credores.

Folha - Que mudança deveria acontecer no BC?

Chossudovsky - É importante que o Banco Central seja, de certa forma, democratizado. Que sirva para financiar um projeto de sociedade. E que não sirva simplesmente para satisfazer as necessidades dos credores e as manipulações de Wall Street, que tem seu cavalo-de-tróia dentro do BC.

Folha - O senhor acredita que o Brasil terá uma crise semelhante à que abalou a Argentina em 1999?

Chossudovsky - Sim. Se mantiver a tendência de endividamento, sim. As dívidas em dólar são muito altas. A única maneira de inverter a espiral de endividamento é mudar totalmente a política monetária. Seria preciso limitar a movimentação de capital para fora do país.

Folha - E mexer na taxa de juros?

Chossudovsky - Os juros são altos justamente para que o capital estrangeiro possa emprestar dinheiro a taxas muito elevadas no Brasil e depois sacá-lo [...]

Folha - O sr. é contra os acordos com o FMI e o Banco Mundial?

Chossudovsky - Essas entidades são burocracias que servem aos interesses dos bancos. Elas estão metidas em planos de privatização e empurrando uma lei de falências. Querem facilitar a bancarrota de grandes empresas para que depois o capital estrangeiro compre o que quer a preços muito baixos. Este governo está matando também a classe empresarial brasileira em nome do capital estrangeiro

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