Avanço tímido na era FHC põe Brasil em 72º em desenvolvimento humano

A era FHC produziu um tímido progresso no desenvolvimento humano do Brasil. É a conclusão inescapável que emerge do IDH-2004, primeiro Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas que permite a radiografia completa dos oito anos de gestão Fernando Henrique Cardoso.
Como os dados utilizados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) têm um atraso de dois anos, o IDH-2004 usa estatísticas de 2002, o ano em que terminou o segundo governo de FHC, que tomara posse, pela primeira vez, em 1995.
É preciso, em todo o caso, tomar muito cuidado na comparação entre os indicadores da ONU para 1995 e os de 2002 -várias mudanças de metodologia e a inclusão de outros países no ranking podem distorcer a avaliação.
Uma avaliação de má-fé diria que o desenvolvimento humano retrocedeu no Brasil no período "tucano", na medida em que, em 1995, o Brasil era o 68º classificado no IDH e caiu para o 72º em 2002. Má-fé porque a queda não significa retrocesso nos indicadores sociais, mas a inclusão de outros países com melhor desempenho (antes como depois do governo Fernando Henrique) nos itens que compõem o índice.

Desenvolvimento médio
Nos anos FHC, o IDH brasileiro subiu de 0,739 para 0,775 (quanto mais perto de 1, mais desenvolvido socialmente é um país).
É um progresso tímido: dá a média de 0,60% de avanço ao ano, quando, no período 1970-1980, o IDH brasileiro melhorava ao ritmo de 2,9% ao ano.
Mas o que mais demonstra o progresso apenas tímido é o fato de que o Brasil nunca saiu, no ranking, do bloco de países de desenvolvimento médio. Mais: continuou, ao terminar a era FHC, bem atrás da Argentina (34ª colocada, com IDH de 0,853), apesar de 2002 ter sido o ano do auge do colapso econômico do país vizinho.
Foi na educação que o governo FHC alcançou progressos menos tímidos. "A educação continua sendo a dimensão em que o Brasil tem seu melhor desempenho, com uma marca superior à média latino-americana e proporcionalmente mais próxima dos valores dos países desenvolvidos", diz o comunicado do Pnud a respeito do IDH-2004 do Brasil.
Entre 177 países, o Brasil é o 62º colocado no subíndice educação, quando, no global, é o 72º.
Mesmo assim, o avanço é insuficiente. O país continua levando uma década para que seus estudantes tenham um ano a mais de estudo na média.
Além dessa deficiência, há o fato de que o IDH está medindo quantidade, mas não ainda qualidade. A melhora de posição em educação se deve ao fato de que o número de matriculados em todos os níveis de ensino subiu de 72% em 1995 para 92% em 2002.
"Aumentaram as matrículas, mas agora é preciso ver quantos vão concluir os respectivos cursos", diz João Carlos Libânio, porta-voz do Pnud em Brasília.
Na saúde, ao contrário da educação, os dados brasileiros no IDH são negativos. A esperança de vida ao nascer aumentou, mas pouco: passou dos 66,4 anos de 1995 para 68 anos em 2002.

Esperança de vida
É sintomático que o Brasil seja o 111º colocado entre 177 países, em termos de esperança de vida ao nascer, posição pior que a sua classificação no IDH global e absurdamente incompatível com um país que tem a 15ª economia do mundo (e que era a 10ª ao terminar a era FHC há um ano e meio). Mas o grande problema brasileiro, tanto antes como depois do período FHC, é a renda per capita. Primeiro, continua sendo muito baixa: o brasileiro é apenas o 63º colocado no ranking da renda, entre 177 países.
Sua renda (US$ 7.700 ao ano, pela paridade de poder de compra, que leva em conta os diferentes níveis de preços em cada país) continuava sendo inferior à da atormentada Argentina, para não mencionar Chile e Uruguai, entre outros países latino-americanos.

Linha de pobreza
Segundo problema no quesito renda: o número de pobres permanece muito elevado. Para o Pnud, são 22,4% os brasileiros que estão abaixo de uma linha de pobreza definida como sendo de até US$ 2 por dia. Daria, portanto, US$ 60 ao mês ou R$ 180 reais, inferior ao salário mínimo. Mas há outras maneiras de medir a pobreza, entre elas a que é utilizada pela Fundação Getúlio Vargas, que aponta para 33% de pobres (ou 56 milhões de pessoas).
Os dados do Pnud não permitem uma comparação sobre a evolução da pobreza no período FHC. É certo que ela caiu logo que a inflação foi derrubada, a partir do segundo semestre de 1994, mas há estudos que mostram que voltou a subir no período 2000/02.
O que é certo é que "dificilmente o Brasil atingirá a meta de reduzir a pobreza à metade até 2015", diz Libânio, aludindo a um dos objetivos fixados pela Cúpula do Milênio e assinados por FHC.

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